terça-feira, 27 de dezembro de 2011

APRENDER COM O JAPÃO


Tal como já referi em posts anteriores, os anos 90 proporcionaram situações de instabilidade macroeconómica cujos resultados e ensinamentos foram largamente menosprezados pelos economistas. O que é particularmente perturbador já que esse período foi alvo de uma vasta e multifacetada investigação que, pelos vistos, caiu em saco roto. A coexistência de uma década de profunda estagnação da economia japonesa com as crises cambiais das economias asiáticas com epicentro na Tailândia determinou uma situação de forte instabilidade que só a mais longa expansão da economia americana evitou que degenerasse numa recessão mundial.
Os ensinamentos suscitados pela década de 90 teriam sido extremamente úteis na abordagem à Grande Recessão de 2008/09 acaso não tivessem sido ignorados ou, pelo menos, não suficientemente recordados para influenciar a política macroeconómica global.
Por isso, é expectável que, após 4 anos de prolongamento dos efeitos da Grande Recessão, sem uma abordagem consistente à sua superação, a comparação entre a situação actual e a década de 90 continue a interessar alguns economistas na busca de soluções mais eficazes. Entre os traços de comparação explorados, é sobretudo a situação da economia japonesa que é objecto de mais atenção.
É neste contexto que, para leitores com formação macroeconómica mais sólida, recomendo vivamente um artigo recente de um investigador do Nomura Research Institute de Tóquio, Richard C. Koo. O artigo chama-se “O mundo em recessão de balanço: causas, terapia e política”. O conceito chave do artigo é o de recessão de balanço (balance sheet recession). Segundo Richard C. Koo, o que caracteriza uma recessão desta natureza é o conjunto de comportamentos posteriores  a uma bolha financeira. Com o colapso dos preços dos activos financeiros e com a permanência dos passivos correspondentes, uma parte substancial do sector privado entra num processo de minimização da dívida, poupando ou reembolsando parte da dívida acumulada. Esta minimização equivale a uma desalavancagem generalizada da procura agregada, aliás como outros economistas têm sublinhado. Numa situação deste tipo, a desalavancagem do sector privado limita a acção da política monetária, já que o sector privado mais endividado tende a reduzir a procura de crédito e parte do sector bancário também atingido pelas imparidades diminui também a oferta de crédito ao sector mais endividado. A desalavancagem do sector privado acontece mesmo em contexto de taxas de juro próximas de zero, tendendo a provocar uma situação de espiral deflacionária. A perda de procura agregada é contínua e igual à soma da poupança adicional e do reembolso líquido das dívidas. É neste contexto que a manutenção de um estímulo fiscal é absolutamente necessário para contrariar e inverter a espiral deflacionária. Do artigo: “(…) Nada pior do que uma consolidação fiscal quando o sector privado está doente e a minimizar a sua dívida”.
A analogia é perturbadora: tal como em 1997 e 2001 uma consolidação fiscal prematura comprometeu irremediavelmente a recuperação da economia japonesa, também agora uma consolidação fiscal generalizada (friso bem) pode conduzir a economia mundial ocidental a uma espiral deflacionária.

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