quinta-feira, 3 de abril de 2014

DE ABALADA ATÉ ALJUSTREL



Nos últimos tempos daria jeito ter um pequeno monte ou pequena habitação pelas bandas do Alentejo, pois já são muitas as presenças públicas naquele território.
Desta vez a convite do José Carlos Albino, um ator e dinamizador local de grande experiência e capacidade de iniciativa para a sessão inaugural das Conferências de Aljustrel, focadas no tema Cidadania, Inovação e Território. Tema a tratar na sessão inaugural, O Modelo de Desenvolvimento e a Questão Territorial. Companheiros de sessão, moderados pelo jornalista Jorge Barrigas, o geógrafo Professor Jorge Malheiros que certamente tratará a questão do declínio demográfico e, nada mais, nada menos do José Pacheco Pereira. Estou assim preparado para sentir na pele o olhar implacável de Pacheco Pereira, mais ou menos similar ao que ele dirige aos companheiros António Costa e António Lobo Xavier quando as ideias não lhe agradam.
Tenho uma intervenção concebida em torno de três ideias cruciais e a sua aplicação aos desígnios do Alentejo:

  • Da encruzilhada ou precipício atuais à necessidade de respirar para pensar o modelo de desenvolvimento e o território;

  • Inovação territorial ou territórios de inovação?

  • As mais-valias do território são diferentes consoante as opções do modelo de desenvolvimento em Portugal.

A primeira ideia é talvez a mais controversa. Não faz sentido a meu ver discutir o futuro dos territórios e das suas opções sem que respiremos para o fazer. E respirar significa inverter a caminhada para o precipício em que nos estão a mergulhar, na sequência do que agora designo de tripla crise da economia e sociedade portuguesas:

  • Crise do modelo de afetação de recursos, de financiamento, anemia do crescimento económico, mudança estrutural imposta pela adaptação à globalização;

  • Crise financeira internacional, grande recessão internacional e recuperação anémica e titubeante;
  • Desastrada (intencionalmente?) abordagem à crise das dívidas soberanas no edifício do euro não preparado para situações de stress.
O modelo em curso que não permite respirar para pensar o território no quadro das opções para Portugal caracteriza-se por:
  • Embaratecimento da força de trabalho e efeitos perversos dinâmicos de não inovação empresarial e baixos investimentos em educação por parte das famílias, indivíduos e empresas …
  • Empobrecimento de largas franjas da população
  • Agravamento de desigualdades
  • País fraturado em múltiplas dimensões: os almofadados e os não almofadados; os novos e os velhos; os empreendedores e os não empreendedores e muitas mais que imaginação não falta ao processo.
Vou tentar demonstrar que neste modelo o Alentejo pode esperar pouco, sobretudo porque lhe falta a massa crítica de força de trabalho jovem. No modelo alternativo, pode ser um ativo:
  • Continuidade imperiosa da melhoria de qualificações: melhorar fluxos para quebrar a inércia dos stocks.
  • Mudança do perfil de especialização produtiva: mais do que setores novos, emergentes ou consolidados … capacidade de absorção de mais qualificações
  • Inovação e conhecimento para responder ao estímulo da progressão salarial
  • Escolhas públicas sensatas: almofadas sociais e libertação de recursos de investimento público para potenciar exclusivamente a transição.
Um ativo com duas dimensões:
  • ALENTEJO TERRITÓRIO como fator de resiliência e de amortecimento à degradação das condições de vida … com longa experiência e sabedoria alicerçada na intervenção municipal e das associações de desenvolvimento local;
  • ALENTEJO TERRITÓRIO como recurso e ativo ao serviço de um modelo de desenvolvimento que não frature o país, que valorize a melhoria das qualificações combatendo a inércia do stock, com o desafio de criar e atrair uma base produtiva que coexista amigavelmente e valorize as amenidades urbanas, ambientais, patrimoniais e culturais da Região e dê valor económico às ideias de que no Alentejo “o tempo é tudo” e que lá “é possível encontrar o tempo”.
Veremos o que é isto provoca.

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