sexta-feira, 7 de outubro de 2016

IL N’Y A QUE L’AMOUR?



No mês em que acontece a passagem do centenário do nascimento de François Mitterrand (1916-1996), as edições Gallimard dão à estampa dois documentos extraordinários sobre aquele que foi um dos homens públicos mais fascinantes do século XX: um livro registando toda a sua correspondência (1218 cartas) dirigida a Anne Pingeot, a qual se estende de 1962 (ela, então, com 19 anos, ele um “apaixonado tímido” já com 46) a vésperas da sua morte, e um diário que é um perfeito livro de arte (cheio de fotografias e desenhos, colagens e excertos publicitários, artigos de jornal e reflexões próprias manuscritas), construído a partir de 22 blocos de notas dirigidas entre 1964 e 1970 à “Ana que eu amo”.

Mais uma vez assim reencontramos a força surpreendentemente retumbante deste personagem ímpar. O político e o presidente duro e impenetrável a desvendar facetas de um humor e de uma humanidade que chegam a ser perturbadoras. Jean Birnbaum (“Monde des Livres”) sintetizou-o referindo-se ao real do amante Mitterrand filtrado pelo seu amor por Anne Pingeot. Ou, citando muito a propósito Roland Barthes: “Não tenho nada a dizer-te a não ser que esse nada é a ti que o digo”. E depois..., depois essa tão coerente contradição entre um lema central e vencedor de campanha política (“Changer la Vie”) e um lema de vida bem mais complexo em torno do amor como sendo o que permite mudar verdadeiramente a vida...

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