sábado, 31 de maio de 2014

O DEBATE DO MÊS

(António Jorge Gonçalves, Toon, http://inimigo.publico.pt)


Eu sei bem que este foi o mês de umas eleições europeias que podem ter sido o princípio de uma nova e terminal fase do projeto comunitário às mãos de extremismos vários, perigosos e imprevisíveis. Eu sei bem que este foi o mês de uma eleições europeias que por cá significaram a derrota da traição, o repúdio do sistema e a recusa da alternativa, abrindo um processo no interior do Partido Socialista que poderá ser decisivo para o futuro de Portugal. Mas eu também sei que tende a ser lento o amadurecimento dos fenómenos de largo espectro social e político, pelo que opto por esperar mais um tempo e entretanto caraterizar o grande debate de maio como aquele que se desenvolveu em torno da “saída limpa”. Deixando de lado, por indecente e má figura, o novo 1640 do restaurador Portas, fica a verdadeira interrogação: fomos corridos ao pontapé ou apenas beneficiamos da fingida condescendência dos nossos supervisores?

ELE E ELA

(adaptado de João Fazenda, http://visao.sapo.pt)

Hoje vou ser um responsável ator secundário de um casamento finalmente cumprido. Mas não quero, ainda assim, deixar de cumprir a nobre missão do recado a que por aqui me fui comprometendo.

E, em dia seguinte ao dos acórdãos do Tribunal Constitucional que vieram novamente pôr em evidência quanto o presidente da República não exerce nem honra a sua função, fico-me por duas referências anódinas aos inigualáveis inquilinos do Palácio de Belém.

Ele, comentado por Ricardo Araújo Pereira na “Visão” de ontem a propósito das “Europeias”: “No sábado, o Presidente da República apelou ao voto de todos os portugueses. No dia seguinte, registou-se a maior abstenção de sempre. Cavaco Silva é muito mobilizador, mas não conseguiu competir com um daqueles dias em que não estava bom tempo para a praia nem havia futebol. Talvez não seja boa ideia colocar um homem que nunca pôs um cravo na lapela a apelar ao bom funcionamento do regime nascido da Revolução dos Cravos.” Ela é outra loiça, e de outra cepa, como podem ver abaixo e na “Flash” de hoje...

sexta-feira, 30 de maio de 2014

BORA LÁ?


Nunca pecam por excessivas as referências ao estimulante pensamento do José Manuel Félix Ribeiro. Pois aí fica uma súmula das “gordas” da sua entrevista à Anabela Mota Ribeiro, há dias publicada no “Jornal de Negócios”. E as afirmações são todas, a meu ver, verdades como puños. Vamos esmiuçá-las?

quinta-feira, 29 de maio de 2014

DESESPERADAMENTE À ESPERA...

(Emilio Giannelli, http://www.corriere.it)

Já aqui se falou da surpresa Renzi, desde domingo passado o chefe do partido socialista (e democrático) mais representado no Parlamento Europeu. Sabendo-se que o novo presidente do Conselho italiano será proximamente o ocupante da liderança rotativa da União Europeia, e sendo conhecidos o modo determinado com que ele se afastou das politicas de austeridade e os convites que dirigiu aos seus congéneres no sentido de contribuírem para uma mudança na Europa, será que as suas ostentações de vaidade e megalomania poderão ter estado a encobrir o portador de uma nova esperança ou, pelo menos, um protagonista diferente e a ter em conta?

CAPITALISMO INCLUSIVO



Nos últimos tempos, sobretudo em torno da controversa obra de Thomas Piketty, O Capital no século XXI, o tema da desigualdade na distribuição do rendimento e da riqueza tem ganho uma progressiva notoriedade na literatura, no debate político e na animação reivindicativa de rua (veja-se a causa dos 99% nos EUA). Há quem veja precipitadamente na obra de Piketty (a analogia do título) uma espécie de reincarnação de Marx e do Capital, o que é pelo menos paradoxal atendendo a que Piketty trabalha com instrumentos de análise puramente apropriados pelo mainstream neoclássico da economia, longe das categorias do Capital que nos fizeram queimar pestanas nos bons velhos anos 70. Para o provar veja-se a formalização que Bradford DeLong construiu em torno das categorias dePiketty.
Mas o tema da desigualdade tem penetrado o pensamento das mais inesperadas personalidades, longe de poderem ser consideradas out of the system, envolvendo antes pelo contrário atores muito representativos desse sistema.
Vem isto a propósito da conferência On Inclusive Capitalism desta semana em Londres, pela qual passaram personalidades relevantes da economia e do sistema.
Hoje gostaria de destacar a surpreendente conferência de Mark Carney, o canadiano à frente do Banco de Inglaterra, também subordinada ao tema do Inclusive capitalism (ver vídeo)
Carney parte de uma definição de capitalismo inclusivo que integra a igualdade de rendimentos , a igualdade de oportunidades e a justiça intergeracional. E fá-lo baseado em três grandes aquisições da moderna literatura sobre o tema: que mais igualdade é benéfico ao crescimento; que a desigualdade é uma das causas mais relevantes da infelicidade relativa; por uma questão de justiça. Surpreendentemente Carney navega por ideias como a necessidade da legitimidade dos mercados não poder basear-se apenas na eficácia mas também na justiça, apelando assim, na linha do Adam Smith da Theory of Moral Sentiments, à importância dos valores e das crenças na vida económica.
O mundo parece ter mudado quando se ouve o governador do Banco de Inglaterra criticar o fundamentalismo de mercado, travestido sob a forma de desregulação e fraca supervisão prudencial do sistema bancário e financeiro.
E não é por acaso que Carney acaba por chegar ao contributo do sistema bancário para a erosão do capital social que mina a relação equilibrada entre mercados, valores e crenças. Três processos são analisados por Carney para mostrar como é necessário uma espécie de regresso aos basics para inverter a referida deterioração do capital de confiança no sistema: o aparato do “demasiado grande para falir”, a ganância de alguns agentes do sistema financeiro e a injustiça da fortalecida tecnologia bancária e financeira penalizar o investidor de retalho.
Sinal dos tempos ou simples reação de um sistema acossado, o discurso do Governador do Banco de Inglaterra marca uma tendência. Afinal a missão do Banco de Inglaterra é a de “promover o bem dos britânicos, assegurando a estabilidade monetária e financeira”.

PRECIOSIDADES (28)


As leituras ocasionais e de circunstância têm destas coisas! Foi realmente por força de uma coincidência que me chegou às mãos o número de abril do “Acção Socialista” e, como sempre faço com os materiais de leitura, não me fiz rogado em o ir folheando e lendo em diagonal.

Ora, um dos principais trabalhos publicados dizia respeito à resposta de alguns socialistas à tão glosada questão “Onde é que estava no 25 de Abril?”. E foi com inteiro espanto que por lá encontrei o seguinte parágrafo a respeito do eterno ex-presidente da Associação Académica de Coimbra de 1969: “O atual líder da bancada socialista na Assembleia da República estava no Porto a 25 de abril de 1974. ‘No dia anterior à hora do jantar, sou procurado por um amigo para me dar conta do golpe militar nessa madrugada. Deu-me o sinal, a senha e a hora da arrancada’. Pouco dado a frequências radiofónicas, Alberto Martins não ouviu ‘E depois do adeus’ nem ‘Grândola’ e deitou-se ‘com o desalento na alma’”.

O que pretenderiam os autores da peça, escrevendo num jornal que é órgão oficial do maior partido português? Evidenciar a falta de secretismo do “golpe militar”? Denunciar uma descrença em Martins? Valorizar este por ter amigos próximos do MFA? Diminui-lo por não ser muito dado a telefonias? Valham-nos Deus e a Virgem Santíssima!

quarta-feira, 28 de maio de 2014

UMA QUESTÃO PARTIDÁRIA OU NACIONAL?



Em primeiro lugar uma declaração de conflito de interesses. Não tenho qualquer ligação profissional ou de conselho nem com António José Seguro (AJS), nem com António Costa (AC). Sou há longos anos simpatizante e votante PS como sou adepto do Benfica há bem mais longos anos. Por interpostas pessoas com quem tenho uma relação de amizade e de respeito cívico, se tive alguma relação de colaboração esporádica foi curiosamente com AJS: participação em Castelo Branco (a convite de Luís Braga da Cruz) numa sessão centrada nos territórios de baixa densidade (fôlego que se foi perdendo na voracidade do taticismo político da atual direção do PS), participação em Viana do Castelo numa sessão do Novo Rumo (a convite de José Maria Costa e José Manuel Carpinteira) e participação em Lisboa em nova sessão Novo Rumo sobre educação (a convite de António Nóvoa).
Estou por isso particularmente à vontade para comentar o turbilhão atual do PS (que apreendi imediatamente com aquele arranque da noite eleitoral e com o discurso programado de Francisco Assis). Nos tempos do Dr. Fernando Gomes tive alguma (pouca) aproximação ao aparelho partidário do PS no Porto e não gostei. Percebi depois na candidatura de Elisa Ferreira um pouco da alma disfuncional do aparelho. Não esqueço as palavras do então Chefe de Gabinete de Fernando Gomes, o Engº Vasco Valente (por que bandas andará?) que me dizia com aquele pragmatismo de quem conhece os aparelhos por dentro: “ Meu caro se for dos que não pedem nada será sempre olhado com desconfiança!). Lúcidas palavras.
Ponderado este contexto e sem dramatismos de circunstância, penso sinceramente que o PS está perto do abismo de uma desconstrução a prazo, incapaz de perceber o que se passa à sua esquerda e à sua direita, em trajetória potencialmente similar à que o PS francês e o PSOE estão a trilhar, não sendo possível imaginar o fim dessa involução.
Como é que a liderança de AJS se projeta nesta trajetória muito pouco virtuosa?
Tenho para mim que AJS é um homem empenhado, honesto, trabalhador, com vontade de fazer coisas. Mas o seu trajeto e experiência política colocam-no numa posição de alguma fragilidade face aos desafios que tem de cavalgar que são nacionais e não apenas de estabilização da liderança partidária.
A sua chegada à liderança do PS sem assumir frontalmente e sem qualquer problema de consciência os resultados do consulado de Sócrates, discernindo bem o que esteve mal e os aspetos largamente positivos dessa governação, ou melhor dos dois tempos dessa governação, criou um limbo de fragilidade e de vulnerabilidade, do qual nunca a meu ver conseguiu libertar-se. E o pior é que AJS se deixou embalar por um taticismo político de muito curto prazo, marcando ao dia e à semana o respirar também ele anárquico e mistificador de Passos Coelho e seus apaniguados. Como é óbvio, há alguns eleitos da liderança e da ação que conseguem com respostas de muito curto prazo forjar um padrão consistente de estratégia. Há quem consiga de facto construir uma estratégia sem a formalizar ou declinar em proposições. Sinceramente acho que AJS não tem essa capacidade. O seu taticismo político aparece em contra-mão aos desejos profundos dos Portugueses de poder aspirar a um futuro que sublime as penas e os sacrifícios de curto prazo. A evolução da conjuntura haveria de ser madrasta para esse taticismo: eleições antecipadas, taxas de juro, evolução da conjuntura económica, saída limpa, descida de impostos, colaborar ou não com o governo. E a comunicação social é estruturalmente madrasta para as aspirações de AJS. Podem dizer-me que é construção artificial, mas ninguém resiste a ser considerado o melhor adversário possível de quem se pretende abater na curva mais próxima.
É dramático e doloroso alguém nos dizer isto, ou seja, quando podemos dizer a coisa mais importante do mundo e o peso dessa afirmação se dilui quando comparativamente alguém do lado, mais sólido, a enuncia. O peso das coisas e das palavras é terrível e todos já passamos por situações dessas, para as quais é necessário uma resistência de aço para mantermos o equilíbrio mental. Por muito que isso seja humanamente de uma grande injustiça, é isso que se passa quando se ouve AJS e AC falar das mesmas coisas. É simplesmente uma questão de peso e os Portugueses intuem como ninguém estas coisas, sobretudo num contexto como o do hoje em que reagimos visceralmente mal contra o taticismo político. Quando nos enfernizam a vida, quando nos liquidam a esperança na ascensão e mobilidade social, quando vemos os filhos a ter de emigrar para encontrar a estabilidade económica e poder assumir uma família, quando a nossa confiança na palavra do Estado se desvanece, alguém que nos vem falar de taticismo político tem de ser corrido à vassourada.
Creio que António Costa percebeu isto. Creio que percebeu o significado da fragmentação à esquerda e a trajetória para o suicídio de alguns partidos socialistas europeus, não necessitando de ser do tipo da queda estrutural do PASOK na Grécia. Creio que intuiu que a construção de uma alternativa não é apenas partidária, é muito mais do que isso, envolve a congregação de sensibilidades que vão para além das lideranças partidárias e que podem obrigar estas à mudança. Augusto Santos Silva percebeu muito bem esta dimensão.
A questão a dirimir no âmbito do PS não é paradoxalmente partidária. É uma questão nacional, pois está em causa a viabilidade de uma alternativa não taticista.
Podem então questionar-me se estou otimista quanto ao desfecho do arrumar de casa do PS. Não, não estou. No aparelho do PS e na sua corte há gente de mais que salivou o fascínio do poder e preparou expectativas de mudança de vida. A questão AJS versus AC a dirimir vem no pior momento possível para esse caldo de expectativas. Não é uma questão de espingardas a contar. É uma questão de expectativas em trajetória de formação. O PS pode estar à beira do abismo da menorização futura.
P.S. Isto não significa que José Luís Carneiro, líder da Federação do Porto, não tenha razão em exigir uma avaliação mais rigorosa dos resultados regionais das europeias e sobretudo das diferenças em relação à maioria coligada. É um facto. Mas não é isso que preocupa os Portugueses atormentados com o presente e sobretudo esmigalhados pelas projeções do futuro.

MONETARICES



De toda esta tropa que está no topo das instituições europeias só Draghi vale a pena acompanhar o que vai dizendo pelos diferentes espaços em que é chamado a intervir. Tudo o resto é ruído e há que preservar a audição e não queimar pestanas ou gastar memória digital com gente tão desinteressante.
O discurso de Mario Draghi em Sintra merece leitura atenta, sobretudo porque é proferido num contexto de forte ebulição de orientações de política monetária no mundo, já que os tempos da estabilidade monetária em torno de uma meta de 2% para a inflação são hoje uma miragem. Os bancos centrais estão sob escrutínio académico e público e muitos economistas, alguns deles de forma inesperada dada a sua filiação de pensamento, começam a pensar “fora da caixa”, isto é, a rebelarem-se contra a ortodoxia.
O discurso de Draghi é uma tomada de posição cautelosa sobre os riscos da deflação e, em meu entender, nunca terá ido tão longe no modo como equacionou esses riscos, embora sem pisar a linha vermelha dos que insurgem contra a incapacidade europeia de tomar decisões mais determinadas.
Draghi começa por realizar um exercício anatómico da deflação, destacando o peso da descida do preço das commodities (sobretudo do preço do petróleo) na tendência instalada de descida de preços, tentando com isso encontrar forças exógenas ao euro para explicar os riscos deflacionários, mas não deixa de referir dois fatores específicos da zona euro.
O primeiro atinge por igual todas as economias da zona euro. A apreciação do euro face ao dólar pressiona descendentemente os preços, mas Draghi encontra nesse facto uma pouco consistente pressão inflacionária futura. A descida de preços compensa a queda do rendimento disponível dos últimos anos e pode relançar a procura interna. Mas a apreciação do euro por via dos problemas de competitividade que gera tende a compensar essa melhoria do rendimento disponível, penalizando a possibilidade de reequilíbrios automáticos e dissipadores dos riscos deflacionários.
O segundo fator é específico das economias sob ajustamento orçamental penoso. A receita da Troika apontou para a desvalorização interna dessas economias (induzida sobretudo pela descida do preço relativo dos serviços) e Draghi não consegue convincentemente afastar a consequência dessa desvalorização interna em termos deflacionários. Para que esta desvalorização interna não causasse deflação na zona euro seria necessário que os restantes países tivessem comportamentos altistas de preços para contrariar os riscos deflacionários.
Com este diagnóstico, Draghi hesita em acreditar que a deflação produzirá efeitos que contrabalançarão os riscos de autoperpetuação do fenómeno ou se, pelo contrário, terá de ponderar os riscos das expectativas dos agentes económicos internalizarem rapidamente os riscos deflacionários e adiarem compras e investimentos, ameaçados pelo aumento do peso real da dívida.
Nesta ponderação, Draghi é pelo menos honesto ao destacar os bloqueios e impedimentos a que a política monetária possa estar sujeita para produzir impactos nos preços. E esses impedimentos estão sobretudo situados na questão do crédito às PME que não tem reagido na proporção dos estímulos da política monetária. O discurso lança para a discussão um número significativo: a percentagem de PME viáveis que encontra restrições no acesso ao crédito é em Espanha e Portugal, respetivamente de 25% e 33%, com igual percentagem a rondar 1% na Áustria e na Alemanha. Por isso, o desvio de crédito explica cerca de 1/3 da subutilização da capacidade nos países como Espanha ou Portugal. Mas a própria procura de crédito tarda em acompanhar a recuperação, o que complica o que já é complicado.
Evidenciando pela primeira vez em público estar ciente dos riscos de autoperpetuação das tendências deflacionárias, Draghi terá ouvido hoje de viva voz Krugman defender uma outra meta de inflação para o BCE, mais propriamente uma meta de 4%, para acomodar os diferentes ajustamentos de preços que terão de ser realizados no norte e no sul.
Quer isto significar que a política monetária está ao rubro. Como veremos em post dos próximos dias, a rebeldia contra a ortodoxia vai ao ponto de alguns economistas questionarem se a tradicional subida ou descida de taxas de referência produzirá os efeitos esperados (tornar a atividade económica mais restritiva ou estimulá-la), mas essa frente é bem mais complexa e exige outro fôlego para a apresentar em termos mais acessíveis.
Modernices diria o outro, neste caso é de “monetarices” que se trata. O tempo está fascinante para ensinar macroeconomia. Espero que os colegas no ativo não percam esta oportunidade.

“ESTOU DISPONÍVEL”


Para os devidos efeitos de registo da nossa pequena história, eis o momento em que o País tomou conhecimento de que António Costa acabara de se mostrar disponível para vir a assumir a liderança do PS e de uma mudança política em Portugal. Disse, nomeadamente: “Aquilo que para mim é muito claro perante estes resultados eleitorais é que a derrota histórica que a direita portuguesa teve não correspondeu a vitória histórica que o PS tem de ambicionar ter nas próximas Legislativas. E não é só uma questão do PS, é uma questão do País. O País precisa de um governo sólido, que não esteja a prazo, que não seja fraco nem que resulte de soluções instáveis.”

A bomba rebentou com enorme estrondo nos meios socialistas e junto da comunicação social mais especializada, com os mais variados protagonistas e comentadores a colocarem-se, tomando posição ou a escolhendo lado. Mário Soares já se decidira na véspera ao escrever para o DN sobre a “vitória de Pirro” conseguida por Seguro e Assis e ao criticar o precipitado e excessivo triunfalismo destes. Ao invés, o filho João e Assis vieram assumir posições críticas em relação a Costa, assim como vários próximos do secretário-geral (Carlos Silva, João Proença, Álvaro Beleza e Eurico Dias). Por sua vez, o hábil Augusto Santos Silva preferiu sublinhar a vantagem de qualquer solução que passe pela candidatura de Costa a primeiro-ministro e o perspicaz Alegre preferiu defender a desejabilidade de um debate aberto e transparente das alternativas.

Em substância, dois pontos merecem desde já ser destacados como essenciais. Por um lado, e enquanto Costa passou a ter a enorme responsabilidade de pôr com clareza em evidência as suas diferenças (programáticas e operacionais), Seguro vai ter certamente dificuldade em recusar um confronto sem que desse modo se revele aos olhos da maioria dos cidadãos eleitores como alguém que prefere uma vitória interna na secretaria a um bom e afirmativo combate de ideias e projetos para Portugal, i.e., sem que tal mais não lhe sirva do que de antecâmara para uma derrota nacional em 2015 – aceitam-se apostas... Por outro lado, a dramática situação em que se encontram a economia e a sociedade portuguesas exigem que qualquer dos dois adversários se mostre capaz de valorizar a necessidade de uma definição partidária suficientemente a tempo de não inviabilizar, por pantanoso empastelamento, aquilo que tem mesmo de ser feito...

terça-feira, 27 de maio de 2014

40 ANOS DE SALÁRIO MÍNIMO

Fez hoje exatamente quarenta anos a muito relevante instauração de um salário mínimo em Portugal, no valor de 3300$ à época, pela mão de um governo liderado por Adelino Palma Carlos e oficializado pela assinatura de António de Spínola. Recupero um interessante gráfico publicado num “Expresso” do mês passado e surpreendentemente demonstrativo de que aquele valor devidamente atualizado corresponderia a um montante real superior aos 485€ que estão em vigor. Não é extraordinário?

O EIXO FRANCO-ALEMÃO EM CAPAS


O day after nas primeiras páginas de alguns jornais alemães e franceses de referência. Uns a sublinharem a tentação nacionalista através do gesto feio vindo dos eleitores europeus, outros a perguntarem à Europa (a quem?) pela sua resposta. Estes mesmos a clamarem vigorosamente por uma reação e aqueles a simplesmente constatarem quão estranho é o amigo do lado. Isto está verdadeiramente enleado!

SORRY, I WON’T BE BACK



A democracia tem o seu fascínio. Fui fiel à minha visão do mundo e do país, votei PS, depois de alguma hesitação, confesso, mas estou hoje de consciência tranquila, pois o meu dilema era contribuir para a eleição do nono deputado. Ora talvez o fenómeno Marinho Pinto tenha resolvido o problema.
O I’ll be back foi temporariamente substituído pelo I won’t be back, talvez temporariamente. Há sempre a hipótese de alguém da lista de 8 deputados poder assumir um lugar na governação (e há seguramente casos óbvios dessa possibilidade), pelo que o candidato a nono deputado e o seu patrono esperarão essa possibilidade. Mas a tarefa será difícil e alguma maioria já aguça o apetite para um eleitoralismo soft que ajude a apagar as mágoas dos portugueses e a reduzir a diferença. Mas na hipótese de uma governação PS outras oportunidades de poder se abrirão e talvez a miragem do nono deputado seja substituída por outros apetites.
Quanto ao resto, antecipa-se para a vida interna do PS muita adrenalina. Na minha interpretação, Seguro e Assis foram traídos não pelas projeções, mas claramente pela necessidade de afirmar uma vitória, marcar terreno, vincar a diferença. Na prática foram traídos pela sua inferioridade intrínseca. Se a não tivessem internalizado, teriam a postura sensata de celebrar vitória, reconhecer a reduzida diferença e afirmar vontade de trabalhar para conquistar uma parte considerável dos votos à esquerda e de protesto out of the system. Mas não, optaram pelo triunfalismo e com isso cavaram ainda mais o afastamento em relação aos votantes à sua esquerda.
Mas que lio.