quarta-feira, 3 de agosto de 2016

SERÁ QUE O PROGRESSO TÉCNICO ENTROU EM RENDIMENTOS DECRESCENTES?




(Mesmo em férias breves, tempo para regressar a um tema fundamental para o nosso futuro, à boleia de mais uma recensão crítica da obra máxima de Robert Gordon.)

Tempo para confirmar que as praias de Vieira de Leiria (Marinha Grande) e Pedrogão (Leiria), por um lado e S. Pedro de Moel, por outro, mantêm praticamente intactos os seus perfis, mais popular o das duas primeiras e de nicho mais sofisticado a segunda. Tempo ainda para confirmar que a ausência de pressão demográfica e turística acrescida dá para perceber que mais estragos deve ser difícil produzir, compondo o que sobretudo em S. Pedro de Moel ainda conserva elementos de preciosidade. O que dá para concluir que já é visível que muito do capital fixo residencial e turístico por lá existente não terá margem de aproveitamento possível, com as interrogações habituais sobre o seu estado de conservação daqui a 10 a 20 anos.

E no meio destas reflexões sensitivas sobre um território que já não visitava há longos anos, tempo para consolidar a ideia de que a já aqui comentada (ver links aqui e aqui) obra de Robert Gordon (The Rise and Fall of American Economic Growth) marcará inapelavelmente o debate sobre o progresso técnico na presente década, dada a ausência de refutações decisivas dos seus principais argumentos. Recordo que Gordon não tem uma visão catastrofista do crescimento económico. Ele não sustenta que deixará de haver crescimento económico, mas tão só que ele continuará a acontecer a taxas bem inferiores às que fizeram o chamado período dourado do crescimento económico (o século “maravilhoso”, apesar das duas Grandes Guerras, de 1870 a 1970. Recordo ainda que Gordon apresenta do lado da oferta a explicação mais plausível para a estagnação económica em que as economias mais avançadas estão mergulhadas. Gordon está do lado da oferta para o contributo na perspetiva da procura que Lawrence Summers representa.

O argumento de Gordon é fundamentalmente alicerçado na ideia de que as economias de mercado muito dificilmente beneficiarão de melhorias tecnológicas tão vastas nos seus efeitos sobre a produtividade e a qualidade de vida das populações como as que tiveram lugar no século de todas as descobertas. A eletrificação das casas e o seu acondicionamento climático representa para Gordon uma dessas grandes conquistas que ele vê como dificilmente superadas com as transformações impostas pelo digital e pelas tecnologias de informação e comunicação.

A recensão crítica da obra de Gordon que suscita este post e o regresso ao tema é do economista William Nordhaus para a New York Review of Books que é, como sabemos, muito seletiva nos convites a economistas para nela escrever. Nordhaus não é um economista qualquer. Ele tem a obra mais sólida e profunda sobre a necessidade de melhorar os métodos através dos quais se mede os efeitos sobre o PIB e sobre o crescimento económico do progresso observado em dimensões relevantes da qualidade de vida como a saúde. O que é fundamental para perceber a amplitude dos benefícios da revolução tecnológica do século 1870-1970. Mas Nordhaus é também o economista que espera mais dos progressos da inteligência artificial, ao ponto de considerar que se pode imaginar a última invenção tecnológica com intervenção humana direta, a partir do qual a inteligência artificial comandaria o progresso técnico, reproduzindo-se a si própria. Ora, não é difícil perceber que só uma dimensão de progresso na rota da inteligência artificial poderia contrariar decisivamente a tese de Gordon. Mas convém recordar também que a inovação é intrinsecamente indeterminada. Ninguém a pode realmente antecipar. Com a informação hoje existente o pessimismo relativo de Gordon é difícil de ser rebatido, o que não significa que não possa estar errado.

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