quinta-feira, 15 de setembro de 2016

ELE NÃO TEM DINHEIRO EM NOME DE AMIGOS!


Há uns meses atrás passou-me pela cabeça escrever aqui um post sobre o nome que na atualidade escolheria para dar a um filho de género masculino ou proporia para um neto varão. E esse seria, por razões que se me afiguravam óbvias, o de Carlos Alexandre (CA), certamente também em homenagem a um juiz da nossa praça que surgia como presença permanente/obrigatória em tudo quanto respeitasse a processos de investigação criminal com ligações à política, às grandes empresas ou à alta finança. Assim como se Portugal fosse república de um juiz só, embora ao menos de um juiz que – por excesso de ocupação ou simplesmente por bom senso ou feitio introvertido – primava pela discrição e pela recusa de qualquer tipo de protagonismo pessoal.

Eis senão quando o dito juiz resolve agora mudar de opções e – sabe-se lá porquê – entende conceder uma entrevista à grande a um canal televisivo (a SIC no caso), seguida de mais algumas declarações públicas supostamente clarificadoras (como as referenciadas no “Jornal i”, conforme excerto de capa acima). Ora, e não fora a manifesta seriedade e gravidade do assunto, teríamos aqui matéria para várias incursões (ora profundas, ora jocosas) de natureza sociológica e psicológica sobre por onde vão este nosso querido Portugal e as instituições e criaturas que nele impune e alegremente começam a pulular em preocupantes evidências de (re)produção, assistida ou não.

E eu que até nem sou grande fã de Pedro Marques Lopes (PML) – um comentador que tem ou seus quês de mistura entre um lado vaidosamente pires e um outro feito de Espíritos Santos de orelha – acabo por me ver reconhecido no seu último artigo publicado no DN (“A refeiçoar justiça de tabloide”). Que começava assim: “O juiz Carlos Alexandre é um homem muito trabalhador, muito austero e muito sério. Sabe a diferença entre o bem e o mal. Tem um salário baixo. Trabalha tanto, para ver se ganha mais um bocadinho, que não tem tempo para se valorizar. Não se casou com uma alentejana rica, ganha 75 euros ao fim de semana - menos do que um tradutor, informou-nos - e tem de pagar dívidas. É um homem muito, muito preocupado com dinheiro. Acha que é escutado ilegalmente, mas não se preocupa com isso, já que não tem nada a esconder. Podia ser um homem perigoso, dada a função que ocupa e os segredos que conhece, mas não é, já que ele atua sempre pelo bem. Quase não tem amigos, e um dos poucos tem pena dele.” Mais à frente, PML sublinhava desta forma o clímax do mau gosto e de abuso de poder atingido por CA: “Só mesmo um homem que se julga a encarnação do bem, da justiça e que pensa estar acima da lei se pode permitir dizer e repetir, sem que ninguém lhe tivesse perguntado nada, que 'não tem dinheiro em nome de amigos'. É que é, como se sabe, a primeira coisa que ocorre dizer quando se tenta provar que não se tem fortuna.” Ou seja: “Poupemo-nos a explicações que seriam insultuosas para a inteligência do comum dos mortais: Carlos Alexandre insinuou que o arguido José Sócrates tem dinheiro em nome de amigos. Ou seja, Carlos Alexandre falou claramente de um processo em que está envolvido e insinuou que um arguido praticou uma certa conduta. Mais, Carlos Alexandre dá como certa a tese principal da acusação, a de que o dinheiro em nome de Santos Silva é de Sócrates.”

Não sei como vai acabar este folhetim suburbano que vai enchendo os telejornais e abalando os meandros da nossa Justiça. Sei, isso sim, que cada vez mais nos vamos revelando incomodamente próximos do pior dos nossos irmãos (ou filhos) brasileiros!

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