sexta-feira, 23 de setembro de 2016

HOJE, NA APPLA, EM AVEIRO




(Por convite simpático e já recorrente da Associação Portuguesa de Planeadores do Território, estarei hoje em Aveiro no seu encontro para uma charla sobre monitorização e avaliação de planos territoriais, que é mais uma oportunidade de rever alguns desses estoicos e resilientes profissionais)

Trabalho, muito trabalho, viagens (preciosa estava Évora na terça-feira passada com a luz dos seus amenos 28 graus) e a preparação desta charla explicam esta ausência de dois dias na produção deste blogue.

O post de hoje antecipa algumas ideias da minha intervenção. Ela está estruturada em torno de uma ideia central, que resumo sob a designação Mixed Feelings. E porquê mixed feelings? Essencialmente, porque a questão dos indicadores e das práticas de monitorização e avaliação de planos, tal como acontece com outros domínios das políticas públicas em Portugal, constitui um exemplo flagrante de desconformidade entre a retórica legislativa e a sua consolidação enquanto prática de planeamento.

A desconformidade que discuto na intervenção é aliás reforçada pelo enorme potencial que existe hoje em termos de conhecimento técnico e científico, “research-based” e “policy-based” no âmbito da dimensão educativa e de formação na comunidade de práticas que o planeamento para mim constitui e sem a qual a sua progressão é inviável. Essa comunidade de práticas envolve necessariamente os decisores políticos que podem estar ou não interessados no planeamento e nas suas regras de jogo e numa cultura de avaliação como instrumento (entre outros) de suporte aos processos de tomada de decisão política.

Na intervenção que vou fazer, discutirei sobretudo duas razões para a referida desconformidade entre retórica legislativa e prática de aplicação: a debilidade da componente de programação de investimentos que deve acompanhar os planos territoriais e a degradação do papel do conhecimento “avaliação” como instrumento entre outros de suporte do processo de tomada de decisão política.

A debilidade da dimensão de programação de investimento deve ser destacada. Nos planos há uma dimensão que é possível ele influenciar diretamente que é o investimento público que o acompanha. A dimensão da reatividade de agentes económicos em democracia e em economia de mercado aos instrumentos reguladores do Plano é outra dimensão de influência. Com programação débil de investimento, muitos planos entram no domínio do “wishful thinking”. É tão importante avaliar esses planos do que por exemplo avaliar a probabilidade de Portugal vir a ser um “front runner” na tecnologia ou na produtividade.

Mas a irrelevância da avaliação como instrumento produtor de resultados de suporte à decisão política deve também ser destacada. Os agentes políticos de hoje jogam mais noutras avaliações, por exemplo, o medir o pulso da opinião pública e dos eleitores quanto a medidas que se anunciam e rapidamente se abandonam em função de reações. Veja-se, por exemplo, os ensaios de captação de novas receitas fiscais.

E, na parte final da intervenção, volto à sempre problemática relação entre o planeamento e os valores, que bebo na obra de Bent Flyvbjerg e que é usual resumir nas questões seguintes:

  • Para onde vamos?
  • Quem ganha, quem perde e por que mecanismos de poder?
  • É desejável?
  • O que é que tem de ser feito?

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