segunda-feira, 31 de outubro de 2016

AQUI HÁ GATO …




(O modo como o Reino Unido e os EUA medem a sua posição em relação ao outro bloco em matéria de serviços parece não bater a bota com a perdigota, o que talvez nos demonstre que estamos ainda na idade da pedra em matéria de medida dos serviços e da sua imaterialidade)

O imaginativo Brad Setser (link aqui) explorou a maneira como as fontes estatísticas do Reino Unido e dos EUA reportam o saldo recíproco em matéria de serviços. Esta questão tem estado na berlinda, na sequência do Brexit e de diversas quantificações que têm sido concretizadas para medir o impacto da alucinada decisão dos britânicos.

De acordo com as fontes estatísticas consultadas, que Setser cita (link aqui) e que podem ser consultadas, o Reino Unido reporta um excedente de serviços em relação aos EUA de cerca de 40.000 milhões de dólares. Mas, pelo contrário, os EUA reportam pelo contrário um excedente a seu favor de 14.000 milhões de dólares. Ambos os dados respeitam ao ano de 2015.

As diferenças registadas não são propriamente amendoins, emergindo em contraponto situações de excedente e de défice entre as duas economias. O que quer dizer que alguém está enganado. Como se costuma dizer aqui há gato. Em meu entender, o que esta curiosidade nos mostra é que a quantificação do PIB no que diz respeito aos serviços se não está na idade da pedra, assenta pelo menos em fragilidades que não se compreendem. Os economistas e a medida do PIB continuam a dar-se mal com a diferença entre o físico e o imaterial, acrescendo a esta dificuldade o facto do comércio de serviços a nível internacional não ter a mesma possibilidade de registo das exportações e importações de mercadorias, viabilizada pelos mecanismos alfandegários.

Com estas limitações, rio-me por vezes quando tropeço em discussões estéreis de diferenças de décimas na taxa de crescimento económico (do PIB claro está), tanto mais ridículas quanto mais atenção for dada à não consolidada maneira de medir os serviços, sobretudo os transacionáveis. É verdade que em tempo de penúria de crescimento toda a décima é preciosa, mas conviria não perder de vista o problema da medida.

ESTE FOI O MÊS...

(Chris Riddell, http://www.guardian.co.uk)

Neste outubro a uma hora de terminar, pouco parece ter havido de verdadeiramente novo a assinalar. Vários foram, porém, os regressos e as confirmações no interior de uma Europa que já dificilmente deixará de passar à posteridade como do nosso descontentamento.

À cabeça de todos os factos que fomos testemunhando será de fazer sobressair a paulatina denúncia do falso otimismo dos defensores do “Brexit” e a aceitação que surdamente se vai impondo quanto à importância dos seus expectáveis malefícios (muito sintomaticamente, o cartune acima tem precisamente por título essa ideia mestra de um conto de fadas sinistro).

Mas justificam também menção/saliência o ridículo caso da assinatura do acordo CETA e do bloqueio imposto pela Valónia (entretanto resolvido, como sempre fora de tempo e já com irreparáveis danos de imagem), a inconsequente recorrência das ameaças sancionatórias em relação à Rússia, o continuado descrédito de Merkel junto dos seus concidadãos e desejados eleitores ou a lamentável e imutável volta da Grécia à boca de cena.


(Klaus Stuttman, http://www.tagesspiegel.de)

(Nicolas Vadot, http://www.levif.be)

(Ilias Makris, http://www.kathimerini.gr)

Enquanto tudo isto, e agora no tocante ao nosso querido jardim à beira-mar plantado, a vida prossegue num quadro de aparente acalmia..., ela própria amplamente facilitada pelo bom tempo outonal. Sempre com o professor Marcelo a entrar-nos pela casa dentro sem olhar a horas nem pedir licença, desempenhando assim um papel de distribuidor de jogo (ou bandarilheiro?) que foi inquestionavelmente útil para uma descompressão pós-cavaquista mas que não deixa por isso de ser cansativo e, sobretudo, improcedente do ponto de vista de um necessário contributo focalizado naquelas que deveriam ser as exigências estruturalmente transformadoras do País. Sendo que o grande tema do mês se centrou numa multiplicidade de infindáveis complicações em redor da Caixa, um infeliz corrupio de temas menores que, tendo claramente dedos político-partidários, encontra em Centeno e Domingues dois intérpretes irredutíveis.

(Cristiano Salgado, http://expresso.sapo.pt)

(António Jorge Gonçalves, http://inimigo.publico.pt)