quinta-feira, 6 de abril de 2017

OS ENTREVISTADORES-PENINHA




(Passos Coelho agradece reconhecido a compreensão dos entrevistadores-peninha, José Gomes Ferreira e Bernardo Ferrão, mas tal como a técnica do judo nos ensina talvez uma entrevista mais musculada o tivesse ajudado mais a marcar alguma diferença …)

Nesta última segunda-feira, dei comigo num zapping rápido a percorrer os canais de notícias, irrespiráveis após o jantar com tanto comentário futebolístico, regra geral de muito má qualidade. Num desses relances, apanhei o truculento Manuel Serrão a insurgir-se contra os dragões-peninha (ou dragões pombinha já não me recordo bem) em que Nuno Espírito Santo, treinador do FCP e os jogadores do Porto se tinham transformado pela maneira como o primeiro não tirou partido do choque com Jonas e os segundos pela confraternização que tiveram com os adversários no fim do jogo, no qual era visível que o empate tinha agradado aos protagonistas.

A truculência de Manuel Serrão, que corresponde a uma imagem cultivada para programa de comentário futebolístico, produziu uma classificação preciosa. Dragão-peninha ou dragão-pombinha é das mais imaginativas imagens que tenho visto em comentário daquele teor e interrogo-me se a diatribe não visava mais alto.

Dragão-peninha (vou reter esta formulação) foi a imagem que me ocorreu ao visualizar uma desinteressante entrevista ao líder da oposição Passos Coelho. José Gomes Ferreira tão agressivo por vezes no seu comentário foi um compreensivo entrevistador-peninha. Bernardo Ferrão foi-lhe no encalço. O resultado foi uma entrevista compreensiva e algo desculpabilizante para com Passos Coelho, mas que acaba por não favorecer o líder da oposição carenciado de outras águas para manter as guelras bem protegidas. Este tipo de jornalismo confunde educação de entrevistador com incomodidade de questões. Não sabemos que condições terá colocado Passos Coelho para a entrevista. Mas certamente que para a barganha política em que o PSD está envolvido, a entrevista até permitiu a Passos alguma descrispação, mas muitas matérias haveria em que se esperaria maior rigor e exigência de questionamento. A questão da saída limpa, a não utilização dos fundos para um completo saneamento do sistema bancário, a inventiva e experimental medida de resolução do BES, o relacionamento com o Governador do Banco de Portugal que vai ficando cada vez mais marcado pela sua interação com o governo anterior, o seu conceito de reformas estruturais, a questão de saber como conseguiria um défice público de 2,1% com mais crescimento seriam questões de grande utilidade para clarificar se Passos tem alguma coisa por detrás daquela pose. Mas não. Excessivo peso nas autárquicas, quando continuo a pensar que, embora possa enganar-me e muito, o PSD vai passar relativamente incólume com dados reduzidos da refrega eleitoral. Duvido que os eleitores utilizem as eleições locais para castigar ao retardador o partido que liderou o PAF quando o não fizeram nas legislativas. Será que a demonstração operada pela geringonça viabilizará um castigo diferido, uma espécie de pena ao retardador? Por isso compreendo o relativo à vontade manifestado por Passos quanto ao cenário eleitoral autárquico. Já não teria seguramente o mesmo à vontade se os entrevistadores não tivessem sido dragões-peninha.

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