domingo, 21 de janeiro de 2018

PORREIRO É QUE ESTEJA, PRESIDENTE SAMPAIO!


Grande entrevista de fundo de Jorge Sampaio à “Revista do Expresso”. Da qual emerge a imensa substância transmutada em aparência de normalidade de um dos nossos grandes contemporâneos. Destaques, de todo não substitutivos da leitura? O otimismo com que olha para a evolução do País (“quem tinha 34 anos no 25 de Abril (...), não concebia que passados estes anos pudéssemos estar onde estamos”). A lucidez da sua visão da atual realidade portuguesa (“o território é absolutamente crucial” porque “o território tem um desenvolvimento profundamente desigual e (...) precisamos de ter uma estratégia de médio prazo para este país” e, ainda, “continuo a pensar que precisamos de uma descentralização política, com um combate muito feroz às cacicagens e a gastar dinheiro sem perspetivas, sabendo o que é a responsabilidade de cada um”). A crueza da sua leitura da sociedade portuguesa (“Preocupamo-nos mais com o êxito individual do que com o êxito coletivo, e isso é o resultado de determinadas políticas económicas e de um modelo de sociedade e em que a solidariedade coletiva só funciona em momentos de tragédia, mas no dia a dia é uns a ver e outros a sofrer”). A frontalidade com que questiona o PS e a esquerda (“... tem pessoas que deve mobilizar para essa tarefa de conceptualização e de ligação ao setor empresarial. O pouco que se fala sobre o setor empresarial perturba-me muito. Não é apenas o PS. A esquerda associada ao PS não fala em empresas. E elas são cruciais neste país. Sem isso, não teremos emprego.”). A forma como vê os dogmas que tanto nos limitam (“Vale a pena é dizer que não é sustentável que ignoremos que o problema existe. Por amor de Deus, ele está a meter-se pelos olhos adentro! Temos 40 anos de pagamento de dívida à nossa frente, no mínimo, e é preciso crescer a 3% ou a 4%, o que nunca aconteceu nos últimos anos. Alguma coisa tem de fazer-se, é preciso um consenso.”). O elogio de António Costa e aos riscos de a esquerda do PS querer “baixar à wilderness outra vez” (“deve-se a António Costa o talento de ter percebido que tinha condições para poder liquidar a ideia do arco da governação tradicional” e “uns e outros, BE e PCP, têm de medir que tipo de compromissos têm que fazer para se manterem na posição em que estão; têm de saber digerir aquilo que são os compromissos europeus do PS com os seus compromissos internos.”). A angústia humanista fundamental (“a coisa que mais me aflige é percebermos que os benefícios da globalização e do crescimento são tão desigualmente distribuídos e que essa desigualdade não vai terminar”). E, por fim, a sua lição de vida (“A resiliência. Nunca desistir. (...). Entre muitos defeitos que conheço em mim mesmo, um deles é ter muita capacidade de luta. Não parece, parece que sou um tipo frágil e que hesita, mas não gosto que me ponham a um canto. Saio de lá ao pontapé se for preciso.”). Porreiro mesmo!

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